SEU CELSO, O SAPATEIRO MAIS ANTIGO DA PRAÇA RODRIGUES DO SANTOS, EM SANTARÉM (PA)

Celso Bagata, o sapateiro mais antigo da praça Rodrigues dos Santos. (Fotos: Silvan Cardoso)

Seu Celso é uma pessoa muito respeitada e admirada na praça Rodrigues dos Santos, em Santarém (PA). Contudo, a sua fama não frequenta os ambientes das elites santarenas nem é notado entre as autoridades da cidade. Na verdade, ele é um personagem do povão, dos movimentos nos logradouros e nas ruas, entre as pessoas simples que seguem a sua sufocante correria do dia a dia.

 

Logo ele, seu Celso, que é uma dessas pessoas da correria diária, que há mais de 50 anos testemunha todo tipo de movimentação dessa praça histórica, considerado o embrião de Santarém. Na sua banca, usa de suas habilidades para consertar calçados dos mais variados tipos, sempre satisfeito e agradecido, com tanto tempo fazendo parte dessa longa história.

 

Celso Abdias Marques Bagata nasceu na região do Arapiuns no dia 30 de abril de 1958. É o segundo de um total de sete filhos do casal Osvaldo Guilherme Bagata e Otília Gonçalves Marques. Quase toda a sua infância foi vivida na sua terra de origem, contudo, precisaria embarcar para outros caminhos.

 

Do interior para a cidade

Atendendo uma cliente.
Para poder estudar, precisou morar na cidade. Saiu da comunidade de várzea e foi até a zona urbana de Santarém quando tinha entre 8 e 10 anos de idade. Morou na casa de uma tia no bairro Laguinho, mais ou menos atrás de onde fica atualmente o prédio do Ibama.

 

Nunca quis perder contato com suas origens. Durante as férias escolares, ia rever seus pais, ajudando-os na roça, onde plantavam e colhiam mandioca, batata, cana de açúcar, banana, entre outros. Mesmo na adolescência, valorizava tudo o que tinha aprendido com seus pais, junto de seus irmãos.

 

Na cidade, Celso estudava durante o período matinal, enquanto pela parte da tarde vendia picolés na rua, que eram produzidos por sua tia. O pequeno carregava o isopor e seguia pelas ruas da cidade, vendendo picolés dos mais variados sabores. Desde cedo já ganhava seu próprio dinheiro e sabia dar valor a cada conquista alcançada.

 

Estudou até a 8ª série, pois precisava trabalhar. Tempos depois vendendo picolé, trabalhou com construção civil. Porém, sua maior curiosidade era ver os sapateiros que trabalhavam na praça Rodrigues dos Santos. Tratou de ir lá para assisti-los trabalhando e procurar entender como eles consertavam os calçados.

 

Interesse pelo ofício de sapateiro

Consertando um calçado.

Diferente dos tempos atuais, os sapateiros de décadas atrás não tinham bancas. Eles faziam o conserto em caixotes, que ficavam localizados em diferentes pontos do logradouro. Lá, Celso conheceu sapateiros antigos, como os irmãos Elias e Ceará, Chicão, entre outros, que foram as pessoas que há mais de cinco décadas os ensinaram a trabalhar na profissão. O jovem tinha entre 17 e 18 anos.

 

Feliz por ter aprendido uma nova profissão, tratou de conseguir seu ponto na praça, no início dos anos de 1970, onde passou a fazer parte desse time de profissionais. Foi aperfeiçoando as suas técnicas, tornando-se um dos melhores e mais procurados sapateiros da praça.

 

Casou-se com 28 anos de idade, tanto no civil como no religioso. A cerimônia religiosa foi na igreja Nossa Senhora do Carmo, no bairro Santarenzinho, bairro onde também passou a morar com sua esposa, com quem teve seis filhos.

 

Passado e presente: as lembranças do sapateiro veterano

Fazendo entrega de mais um serviço realizado.
 

Seu Celso costuma lembrar de como era diferente o ambiente que passou a trabalhar na sua juventude. A praça tinha outros aspectos e o Mercado Modelo não existia. Os antigos sapateiros que ensinaram para ele o ofício já se foram. Mas ele continua lá, por mais de meio século, acompanhando as transformações de Santarém e convivendo com pessoas que levam seus calçados para consertar.

 

É o sapateiro mais antigo ainda em atividade na praça Rodrigues dos Santos, que pega diariamente o ônibus e, mesmo no anonimato, escreve uma bela história, testemunhada e observada pelos clientes, amigos e desconhecidos, quando o encontram sempre consertando um calçado.

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