TEBA, GÊNIO DA PERCUSSÃO E ÍCONE DO CARNAVAL XIMANGO
por Silvan Cardoso
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| Teba no "Terraço", da família Marinho Cardoso. (Foto: Silvan Cardoso) |
Pedrinho era um menino observador, atento no que acontecia a oseu redor, buscando sempre aprender coisas novas nos passos iniciais de sua jornada. Tinha sonhos e objetivos em sua vida. Mas a sua vida estava só no começo. Muita coisa ainda iria acontecer. Sua infância era marcada por ser testemunha de personagens importantes da música de Alenquer.
Seu
nome completo é Pedro Lisboa Pereira Filho. Nasceu no dia 22 de agosto de 1966,
dois anos depois que o Regime Militar havia sido instalado no Brasil. Quando
Pedrinho nasceu, José Cardoso Simões estava no penúltimo mês à frente da
prefeitura de Alenquer, e que em setembro concluiria o mandato renunciado por
Aldo Arrais.
O
pequeno Pedro era filho do pedreiro Pedro Lisboa Pereira, que era muito popular
pela cidade como Pedro Cumba. Cumba era também um notável baterista, que tocava
nos conjuntos e festas no município. A mãe de Pedrinho foi dona Terezinha de
Jesus Castro Pereira, que trabalhou como costureira e servente na escola
Fulgêncio Simões.
Pedrinho
era o quinto de um total de 12 irmãos. Os dois primeiros, que eram gêmeos,
morreram ainda pequenos, ficando somente os 10 filhos de seu Pedro Cumba com
dona Terezinha. Moravam na rua Dr. Pedro Vicente, próximo à escola Santo
Antônio, entre a travessa 10 de Outubro e a travessa Santo Antônio.
Origem do apelido “Teba”
Um
irmão de Pedrinho, Fernando Castro Pereira, o Metralha, tinha um colega com
quem era próximo, ainda na época de infância. Esse colega era apelidado de
Teba. Certa vez, o pequeno Teba foi morto na esquina da escola Santo Antônio e
aquilo marcou as crianças da época. Depois desse ocorrido, Metralha, sem
qualquer justificativa, passou a chamar seu irmão Pedrinho de “Teba”. Um
apelido que o identificaria pelo resto da vida.
Teba
era filho de músico e tinha parentes músicos. Esse contato fez com quem
ele também tivesse interesse pela música. Ainda pequeno, quando se sentavam à
mesa para almoçar, percebendo que ainda iam demorar para servir a refeição, o
pequeno pegava alguns pratos na mesa, virava para o lado contrário e, utilizando colher
e garfo, passava a bater nos pratos, como se fosse bateria.
Ao
ver aquilo, Pedro Cumba observava-o e ficava feliz em ver seu filho, aquele que
tinha o seu nome, demonstrando habilidade e interesse musical. De uma das vezes
que seu filho tinha feito isso, o pai disse à mulher, dona Tereza: “Tá vendo? Esse aí vai
puxar pra mim!”. Era natural que ele fosse ter esse interesse, já que ele
convivia com músicos.
Vendedor de geladinho
Com
oito anos de idade, coube ao pequeno Teba ajudar na renda da família. Sua mãe,
dona Terezinha, preparava muitos geladinhos, providenciava uma pequena caixa de
isopor, onde nela colocava parte da sua produção e entregava ao seu filho, para
que ele vendesse pela cidade. Foi um dos seus primeiros trabalhos que fez em
sua vida.
Caminhava
pelas ruas, oferecendo às pessoas os geladinhos, que eram de vários sabores.
Numa oportunidade, juntou-se ao seu amigo Galo, que vendia pão de milho numa
bandeja. Juntos, fizeram parceria e, animados, faziam de tudo para que os
clientes comprassem pelo menos um alimento de cada: um geladinho e um pão de
milho, uma “merenda completa”.
Seguiam
por todas as ruas da cidade, especialmente do bairro Centro. Mas qualquer lugar
era oportuno para conseguir vender. Iam de casa em casa, oferecendo aos moradores,
ficavam nas portas das escolas, esperando que os alunos e funcionários fossem
comprar deles o geladinho do Teba e o pão de milho do Galo.
Até
mesmo nos lugares inusitados buscavam vender seus produtos, inclusive na frente
da cidade, em meio ao grande movimento comercial que lá existia, além de oferecerem
aos pescadores. Assim que os pescadores chegavam com as suas canoas e bajaras,
trazendo o resultado da pesca para comercializar, os pequenos vendedores se
aproximavam deles. Os pescadores sempre compravam a merenda dos pequenos.
Ajudante de pedreiro, brincadeiras na
rua e escolaridade
Além
disso, Teba também era chamado pelo seu pai para ser seu ajudante nos serviços
de pedreiro. E fazia dessa missão mais uma lição em sua vida, aprendendo outras
formas de trabalho, além de conquistar o seu próprio dinheiro.
Porém,
sua infância na rua Dr. Pedro Vicente não foi somente trabalho. Teba também
teve a oportunidade de brincar na rua de terra com as outras crianças, com aquelas
clássicas brincadeiras, como futebol, peteca (como também são chamadas as
bolinhas de gude), entre outras. Conseguiu a oportunidade de se divertir
bastante.
Teba
também foi um estudante dedicado. Iniciou os estudos na escola Fulgêncio
Simões, dando continuidade e concluindo o ensino básico na escola Santo
Antônio, que ficava bem próxima à sua casa. Fez agropecuária, que na época era
um curso de extensão do ensino médio. Fez todo o curso e o concluiu. Depois
disso, preferiu não fazer nível superior.
Um autodidata na percussão
A
música ainda o atraía, tanto que ele juntava latas das ruas e fazia delas seus
instrumentos musicais, como se fosse uma bateria. Usava um pedaço de graveto ou
ripa de madeira e costumava ficar embaixo de um pé de sapotilha, que ficava
próximo de sua casa, batendo do jeito que sabia. Para outras pessoas, eram batidas
desordenadas feitas por uma criança. Para aquela criança, era música aos seus
ouvidos.
Ainda
na sua infância, Teba assistia numa sala de sua casa aos ensaios de um conjunto
musical, que pertencia ao senhor Eduardo Fernandes, seu Benzinho. O pequeno não
desgrudava os olhos da bateria e ficava sempre atento como aquele instrumento
era utilizado. Era como se cada toque ficasse gravado na sua mente, apenas por
observar.
Como
os instrumentos ficavam por lá, Teba via como oportunidade para pôr em prática
tudo o que ele observava nos ensaios. Pegava a vitrola da sua casa, colocava um
disco de vinil de um cantor da época e, assim que iniciava uma música, ele, já
na bateria, começava a tocar no instrumento conforme ouvia a melodia, tentando
fazer igual como na música.
Assim,
Teba foi treinando por várias vezes, persistindo bastante, até aprender a tocar
a bateria. Não teve nenhum professor ou nenhuma aula de música. O jovem era
autodidata nos instrumentos de percussão a partir dos oito anos de idade e
mostrava-se bastante dedicado e habilidoso. Tinha facilidade em utilizar a
bateria, que em pouco tempo já parecia ser um baterista profissional.
A carreira musical de Teba

Teba compondo a banda de carnaval Parafolia. (Foto: Reprodução)
Quando
demonstrava domínio no que fazia, um músico da cidade, chamado José Amauri, fez
a ele um convite para que participasse de seu conjunto musical. Teba viu como
uma grande oportunidade. Nisso, ele disse para dona Terezinha: “Mãe, vou tocar
e ganhar o meu dinheiro!”. Sua mãe concordou. nunca deixou de o apoiar nas suas boas
decisões.
A
partir daí, o jovem baterista passou a construir uma carreira musical em vários
conjuntos musicais, como o grupo Os Populares; Os Apaches, liderado por Antônio
Augusto Camaleão; grupo Bombom, liderado por Narciso Magalhães; Renascente, de
José Amauri; grupo Os Adoráveis.
Além
de participar das festas e shows na cidade de Alenquer, Teba também tocou em
várias cidades pelo estado do Pará, entre os quais citou as cidades de
Santarém, Monte Alegre, Óbidos e Belém. A experiência o engrandeceu mais na
trajetória de músico que, segundo ele, fez com que ajudasse sua mãe e nas
coisas de sua casa.
Além
de ser instrumentista de conjuntos musicais, foi também componente de bandas de
escolas, que participavam dos desfiles cívicos de 7 de setembro. Somente três
escolas tiveram o privilégio da participação de Teba nas suas bandas: escola Maria Barbosa de
Assunção, que não existe mais, escola Fulgêncio Simões e escola Santo Antônio.
Embora
tivesse chances de ter conquistas ainda maiores em sua vida como músico, nunca
quis se afastar de sua mãe, ainda mais com a morte de seu pai, que se foi muito
cedo. Sua trajetória de vida deveria mesmo estar nos limites da cidade de
Alenquer, por decisão própria, onde continuaria a sua história.
Teba
passou a tocar em diversos eventos pela cidade. Fez parte de bandas que tocavam
em festas de formatura, festas de aniversário, eventos católicos como
procissões e shows, além de festas de carnaval. Foi justamente no carnaval que
Teba passou a escrever capítulos importantes de sua vida.
Nos
anos de 1990, na gestão do prefeito Gilvandro Valente, Teba foi contratado para
dar aula de percussão no salão Pio XII, da paróquia Santo Antônio. Recebia pela
prefeitura um salário razoável em dinheiro, mas que o ajudava nos custos. Porém,
isso foi por pouco tempo.
O Alho-rei de Alenquer: Teba no
carnaval ximango

Teba com alguns amigos: Breno Sousa (médico), Jr Patrício (professor), Daniel Monteiro (comunicador) e Francélia Martins (cantora). (Fotos: Reprodução)
Foi
justamente no quintal de sua casa, no início dos anos 2000, na companhia de
figuras populares, como Fernandinho, Cebola, João, Floriano, Silvaniro, Bagaço,
Bola, entre outros, que criaram aquele que seria o embrião de um dos mais
populares blocos de carnaval de Alenquer.
De
acordo com o próprio Teba, o bloco seria chamado primeiramente de Bloco do
Babão. Mas seus fundadores logo mudaram para bloco do Alho. Quando Teba bebia
enquanto se apresentavam no bloco, ele era a pessoa que ficava mais enjoada, o
“mais alho” de todos e o mais barulhento. Por conta disso, um dos fundadores,
Floriano, apelidou-o de “Alho-rei”.
Nos
arrastões carnavalescos que eram realizados pelas ruas de Alenquer, era
indispensável a presença do alho-rei do bloco. Mais do que simplesmente tocar
na banda do bloco – as músicas eram sempre apresentadas ao vivo – a presença
“enjoada” de Teba era um ingrediente importante para que o bloco do Alho
fizesse jus ao seu nome.
Depois
disso, durante as suas apresentações, Teba gritava para todos ouvirem o termo
“safada”, que logo se tornaria o seu bordão mais famoso. Ele gritava o bordão,
mas sem intenção de ofender ninguém, apenas para brincar, criando um clima
descontraído e se popularizando cada vez mais entre os brincantes.
Teba
afirmou que a expressão “safada” surgiu depois que ele ouviu de uma banda de
forró, em que numa das músicas essa palavra era mencionada por diversas vezes.
O termo foi adotado, usado em muitas ocasiões, inclusive quando estava bêbado.
Claro que quando ele via homens, para levar adiante a brincadeira, chamava-os
de “safado”. Todas as pessoas que o conheciam gostavam de vê-lo assim. Quem não
o conhecia poderia se admirar de suas expressões “inusitadas”.
Esse
bordão era tão popular, que o compositor Gerfeson Silva, o Cebola, um dos
fundadores do bloco do Alho, compôs uma música de carnaval, intitulada “Os
lamentos do Teba”, para o bloco, que inicia com uma conversa cômica entre os
dois, na qual, numa parte, Cebola diz: “Não tem nada no Alho, Teba!” e Teba,
bêbado, conclui: “Que que tu ‘disse’ que tu ‘quer’ guerra, é? Vagabundo, música
nova, safado!”
A
forma como Teba se expressa caiu no gosto do povo. Todos os envolvidos no
carnaval sempre esperavam que ele fosse gritar seu famoso bordão durante as
suas apresentações nos carnavais. Toda vez que ela falava, dezenas de pessoas
caíam na risada, como se fosse a primeira vez que estavam ouvindo uma piada.
Voluntário com música no CRAS
Atualmente,
Teba, o melhor percussionista de Alenquer, faz serviços voluntários no Centro
de Referência de Assistência Social (CRAS), junto de outros músicos ximangos.
Lá ele toca e ensina como utilizar o instrumento. É pai de um único filho, que
nunca teve o mesmo interesse de seu genitor na música.
Os
seus serviços no CRAS acontecem duas vezes por semana. É uma atividade que lhe
faz bem, além de fazer bem às outras pessoas. Teba é considerado por muitas
pessoas como o melhor baterista de Alenquer da atualidade, embora ele se ache
um “instrumentista normal”. Ainda afirmou: “Quem faz o músico é o público”.
Teba nunca se casou. Sua vida teve muitos altos e baixos, contudo, os desafios ainda são muitos, que persistem na sua desafiadora caminhada. Aquele Pedrinho, que vendia geladinho para sua saudosa mãe, dona Terezinha, e que era orgulho do pai, seu Pedro Cumba, é hoje um personagem importante da música e do carnaval alenquerense. Um ícone que marcou época e que ainda tem admiração de muitas pessoas.

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